Cachaça paulista, uai!?

Posted by | July 24, 2015 | Artigos | No Comments

Certamente você já deve ter ouvido que se a cachaça não for mineira não é boa. Sem dúvida Minas Gerais, que é o estado com o maior número de alambiques no país, produz excelentes cachaças, mas hoje elas não estão mais sozinhas quando o assunto é bebida de alta qualidade. Produtores de estados como Espírito Santo, Rio de Janeiro, Paraná e São Paulo têm investido muito na melhoria do seu produto, assim como os do Nordeste, que têm forte tradição na fabricação da aguardente brasileira de excelência.

Segundo dados oficiais, Minas Gerais lidera os registros no MAPA, o Ministério da Agricultura, Pecuária a Abastecimento, com cerca de 1.600 cachaças devidamente legalizadas, contra 420 marcas de São Paulo, que ocupa o segundo lugar nesta lista. Considerando a tradição mineira de séculos e o grande número de alambiques espalhados pelo estado, o rápido avanço paulista é um reflexo do grande esforço feito pelos fabricantes de São Paulo para abocanhar parte da fatia de mercado que por anos foi largamente dominada pelos mineiros, bem no estilo “quem mexeu no meu queijo?”.

Sou paulista e especialista em cachaça, e tendo sempre em primeiro lugar a intenção de trabalhar pelo reconhecimento das qualidades da legítima bebida nacional, aprecio e sou fã ardoroso das marcas mineiras, especialmente as envelhecidas em bálsamo. Mas hoje a ideia é falar da cachaça paulista.

Na minha percepção, nestes últimos dois anos especialmente São Paulo chamou a atenção dos conhecedores do assunto pelas várias cachaças de qualidade apresentadas ao mercado, vindas de praticamente todas as regiões do estado. Os novos fabricantes paulistas têm como traço comum a preocupação em inovar, seja nos cuidados com o envelhecimento, na escolha das madeiras, nas embalagens, no posicionamento de marca e na relação custo-benefício para o consumidor.
Vou citar alguns exemplos que mais me chamaram a atenção:

O Ouro do Velho Oeste – Da região oeste do estado veio o ouro da Cachaça Middas, de Adamantina, que além da sua qualidade como bebida propõe ao consumidor a combinação absolutamente inusitada da aguardente com o próprio metal precioso. A embalagem vem acompanhada de um frasco com ouro comestível de 23 quilates, proporcionado uma experiência diferente e sofisticada.

Vale quanto Vale do Paraíba – A Cachaça Mazzaroppi nasceu em Taubaté, terra de Amácio Mazzaroppi, o grande comediante que eternizou o personagem Jeca Tatu no cinema e na cultura brasileira em geral. Apresentada na versão carvalho americano, com um lindo tom palha, sua proposta é se diferenciar da grande quantidade de marcas envelhecidas em carvalho europeu que se encontra no mercado. Nascida também no Vale, a Sapucaia lança sua versão de 80 anos da marca – com a filosofia mais por menos – oferece uma cachaça de alta qualidade com um preço baixo, trata-se de um lote especial limitado em 1.000 unidades.

Lençóis Paulista – A Engenho São Luiz resgata para o município do oeste paulista uma tradição familiar. Embalada em garrafa de designer exclusivo, com sua marca estampada em relevo no vidro, sai na versão amendoim, madeira ainda pouco explorada, que mantém as características sensoriais e olfativas originais da bebida mesmo com envelhecimento por vários anos nos tonéis. Disponível também na versão clássica carvalho europeu.

Boas ideias – Conhecida como berço de grandes empresas do setor, a pequena Pirassununga, na região central do estado, também avança com várias marcas de pequenos produtores que resgatam a história cachaceira do município. Um bom exemplo da retomada dessa tradição é a Cachaça Patrimônio, envelhecida em bálsamo, madeira ainda pouco explorada no estado, que se tornou quase uma marca registrada das mineiras de Salinas, onde foi consagrada em cachaças clássicas como Havana, Indaizinha, Canarinha e outras. A Patrimônio tem uma embalagem simples, que reforça a proposta de otimizar o seu custo-benefício, oferecendo uma bebida de alta qualidade a um preço bastante razoável.

Achando o Norte – A marca pertence atualmente a um grande grupo internacional do setor de bebidas que faz um importante investimento no posicionamento da cachaça brasileira de origem. A primeira versão da Santo Grau é uma legítima mineira do município de Coronel Xavier Chaves, que foi seguida por uma fluminense de Paraty. A tríade foi completada pela Santo Grau de Itirapuã, município da região norte paulista. Produzida em um engenho histórico, movido por roda d’água, até hoje observa rigorosamente os métodos originais de produção, que são os mesmos desde a inauguração do estabelecimento, em 1860. O envelhecimento é em tonéis de carvalho e de jequitibá, o que confere à cachaça sabor macio e aveludado.

Américo Brasiliense – O município da região central do estado oferece ao mercado a Sebastiana, nome de senhora para uma senhora cachaça. Envelhecida por um ano e meio em tonéis novos de castanheira, seu aroma especial valoriza a escolha da madeira. Além da qualidade da sua bebida, a empresa fabricante investe fortemente na comunicação da sua marca, que remete ao abóbora veuve clicquot.

Seja pelo custo razoável ou pelo preço de ouro, na castanheira ou no bálsamo, no carvalho europeu ou no carvalho americano, nas garrafas de fino gosto ou em caixas elaboradas, o importante é que a cachaça paulista vem fazendo a sua lição de casa.

Claro que ainda há muito a caminhar, mas já há, também, muito para se beber em São Paulo, com altíssima qualidade. E sem deixar de render as devidas homenagens à tradição de Minas Gerais e dos outros estados produtores, o caso é de ressaltar que a cachaça é do Brasil e nada valoriza mais a legítima bebida nacional do que a sua própria diversidade.

Um brinde a cachaça paulista!

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